ARETÊ | 1 de setembro de 2021

Cinco perguntas: Heloisa Dantas, paisagista

Por Redação Aretê

 

Cinco Perguntas para Heloisa Dantas, paisagista do Aretê

A história profissional de Heloisa Dantas se confunde com a sua história pessoal. Desde criança ela vinha passar longas temporadas na casa do seu avô, José Ribeiro Dantas, ou Zé Bento, como era carinhosamente chamado pelos buzianos. Após se formar em arquitetura e estudar biologia e paisagismo, trabalhou com Fernando Chacel, a quem ela considera seu mentor. Depois veio trabalhar em Búzios, se especializando na ecologia vegetal da natureza. Conhecedora da vegetação e da composição da paisagem da região, Heloisa  desenvolve projetos com a flora nativa e ainda projetou e coordena a execução de paisagismo do Aretê. 

 

Confira a conversa que tivemos com Heloisa sobre seu trabalho como paisagista em Búzios e no Aretê.

 

 1) Qual é a sua relação pessoal com as plantas e com as espécies vegetais de Búzios?

 A minha história com Búzios começou muito cedo. Eu praticamente nasci aqui, pois passei a infância toda vindo pra cá. Mas o interesse científico surgiu mais tarde quando recebi o convite para trabalhar na secretaria de Meio Ambiente da cidade. Lá tivemos a ideia de criar uma diretoria de Parques e Jardins, nos moldes do que havia no Rio. Foi aí que veio a necessidade de entender como era o funcionamento dessa vegetação. Isso me levou a fazer um mestrado, onde pude entender toda a flora da região e fazer o inventário de toda a área virgem e pública do município.

 

 2) O que a natureza de Búzios tem de específico?

 A região tem um clima mais seco, como na caatinga, por isso as plantas tiveram que se adaptar e se diferenciar. Além disso, o município possui cinco formações geológicas distintas, cada uma com um tipo de solo e um tipo de relevo, com muita exposição ao vento. Isso tudo produziu uma diferenciação muito grande entre as plantas, gerando muitas espécies endêmicas, ou seja, espécies raras que só existem em Búzios. As plantas daqui são muito especiais. 

 

 3) Quando você faz a escolha das plantas no Aretê, imagino que considere a parte estética da espécie. Mas quais são os outros fatores para a escolha e o que te guiou no projeto do Aretê?

 O Aretê é uma oportunidade maravilhosa de trabalhar com a paisagem como um todo, devido às dimensões do empreendimento. 

 O que me norteia é entender em qual tipo de paisagem estou trabalhando para assim criar uma linguagem estética relacionada com as diferentes partes do empreendimento. Por exemplo, na região Toriba há áreas com flores amarelas e vermelhas, outras com tonalidades rosas e roxas e ainda regiões com flores brancas. Para isso uso o inventário onde tenho 400 espécies catalogadas. A parte mais difícil é encontrar as plantas no mercado. Por isso criamos o viveiro do Aretê, onde cultivamos mudas tanto para o projeto de recuperação florestal como para o projeto de paisagismo e lá temos espécies que não existem no mercado para comprar.

 

4) Qual é o desafio do paisagismo no Aretê?

 Para mim o grande desafio é recompor a rica paisagem de Búzios. Para isso desenvolvemos um trabalho sistemático de andar nas matas procurando sementes, levá-las para o horto e reproduzir. Quando precisamos realizar alguma intervenção no bairro, além de cumprir todas as exigências legais para o processo, ainda fazemos coletas para o viveiro do Aretê, onde essa vegetação pode ser conservada. Graças a esse trabalho temos uma diversidade de árvores que não estão disponíveis no mercado, plantas originárias da região. São espécies que só nós temos.

 

5) Quando é que você sente que o projeto de paisagismo acaba?

 Por conta das condições climáticas de Búzios, o trabalho de paisagismo aqui precisa de muitos cuidados, de ações firmes de recuperação e de investimentos para manutenção. Portanto, quando eu acabo de fazer um jardim é que ele realmente começa a tomar corpo e ganhar vida.  É o nascimento dele. Cada fruto, cada flor que nasce naquilo que você plantou enche o coração de alegria. Paisagismo é cuidar e ver crescer.